Virgínia Leitão, a tia Vigica

Minha tia Vigica partiu na madrugada de 9 de março de 2021. Dormindo. Quase 98 anos, que faria em abril.

A mais nova das irmãs de meu pai, de nome Virginia Leitão. A terceira de quatro filhos. Nossa companheira de viagens e vida.

Ainda não consigo falar tudo o que sinto, sei que teve uma vida dedicada aos outros, mas também viajou pelo mundo. Foi a Tia que entrou na grande pirâmide, na Gruta Azul e foram poucos os continentes onde não esteve.

Foi sempre a frente do seu tempo, mulher de fibra e de atitude. Descansa em paz, Tia.

A gente te ama muito.

Acordo ensolarada. A energia me invade de forma diferente, eu que tanto ando carente dela. Arrumo a cama com energia, troco os lençóis, espano as poeiras do descaso. Arrumo as almofadas. Meus dedos tocam a única diferente entre elas. Tecida por mãos que já não habitam este mundo. A saudade me bate forte. Lembro que hoje, 24 de abril, é o dia que ela nasceu no planeta Terra. Taurina. Teimosa. Perseverante. De personalidade forte mas terna. Toda cuidados. Mais com outros que com ela. Minha tia. Tão virginal como seu nome. Virginia.
Lembro de sua energia que se tornava mais alegre quando ela convivia. Seus dedos ágeis faziam maravilhas com as agulhas. Linhas que se transformavam em colchas, toalhas, vestidos. Almofadas. Seus sorriso quando dava presentes. Gostava de se doar. Ou talvez fosse a forma que aprendeu de viver a vida, com os filhos que não teve, mas que ajudou a criar.
Lembro da sua coragem de ser mulher só em uma época em que isso era um peso. Sempre independente, sempre solidária. Nunca conformada. Xingava em alto e bom som, quando tudo exigia mulheres caladas. Tecia sua vida entre linhas e trabalhos. O que sonhava minha tia que tecia e viajava?
Entrou na grande pirâmide no Cairo. Na gruta azul na Itália. Visitou igrejas pelo mundo, até na terra santa, ela que acreditava na fé do homem de Nazaré. Correu quase todo o mundo. Dele nos trazia lembrancinhas cheias de amor. Mas mais. Trazia histórias de vida e possibilidades. Era ávida de conhecer.
Não posso evitar chorar nesse domingo ensolarado. Saudades da minha tia que tecia e viajava. E amava. Saudades tem desses momentos em que a distância do tempo que não volta se transforma numa mistura de dor que aperta o peito e uma alegria melancólica de reviver tempos tão bonitos. Eu mesma tecendo minha vida.
Feliz aniversário, Tia. Os que amamos nunca morrem enquanto em nós restar essa lembrança do quanto o que viveram foi tão significativo, nessa tessitura de momentos que formam a colcha de retalhos da vida que vai se formando de nossas ações e sentimentos.
Uma almofada. Nesse momento um elo que me traz amor.
(24 de abril de 2022)
Acervo pessoal família Leitão - Cachoeira do Sul

Acervo pessoal da família Leitão - Cachoeira do Sul

Acervo pessoal da família Leitão - Cachoeira do Sul

Acervo pessoal da família Leitão - Cachoeira do Sul




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Batalha do Barro Vermelho

Fábio Alves Leitão - História

Origens: Vila da Chamusca