Batalha do Barro Vermelho



85 anos da guerra do Barro Vermelho


Na batalha da Revolta de 1924, morre Balthazar de Bem, um dos maiores politicos da história de Cachoeira

> EDUARDO MINSSEN

PESQUISA ESPECIAL PARA O JP

No domingo de 9 de novembro de 1924, no recém instalado 3º Batalhão de Engenharia, o impulsivo capitão Fernando Távora, com alguns sargentos e civis, rebela uma tropa de 200 homens. Eles atravessam o Passo do Seringa em alguns automóveis. Contudo, cerca de outros 60, por falta de transporte, tiveram que marchar a pé.

Eram dias da Revolução de 1924, que sacudiu o Rio Grande do Sul e até hoje é lembrada em vários municípios que serviram de teatro de guerra.

O comandante do Batalhão, coronel José Armando Ribeiro de Paula, em nome do Ministério da Guerra, requisita à população civil automóveis e caminhões
e inicia a perseguição com o apoio da fortíssima Brigada Militar, sustentada pelo Governo Borges de Medeiros e do Corpo de Provisórios, comandado pelo Major Bozano. Preventivamente, conforme indicação dos rumores de então, Bozano veio de Santa Maria de trem e se entrincheirou no Passo do Santa Bárbara, para proteger a estrada que levava a São Sepé. Às cinco horas da manhã do dia 10, as tropas legalistas haviam transposto o Jacuí pelo Passo do São Lourenço, em sua integralidade.

Para guarnecer a cidade, já que a informação era de que os revoltosos iriam
receber reforços e voltariam para buscar recursos financeiros e provisões, o  Major José Bentes Martins ficou encarregado dos preparativos defensivos. Logo após o amanhecer, o vice-intendente, Balthazar de Bem, seu afilhado João Noronha de Bem e o conselheiro Glycerio Alves, junto com outros governistas e aliados, também atravessam a barca e partem rumo ao combate.

O primeiro choque deu-se aproximadamente às 8 da manhã. Os rebelados, que haviam marchado cerca de 33 quilômetros, estavam entrincheirados junto à casa e ao comércio de Donato Dias (três quilômetros antes do Barro Vermelho), onde reagiram à chegada da tropa oficial. O coronel adiantou então um piquete de cavalaria, comandado pelo capitão Avelino de Carvalho. Os rebelados recuaram e entrincheiram-se ao lado do cemitério e no barranco de uma sanga
próxima.


Mapa com os principais movimentos da batalha do Barro Vermelho, em 1924, que acabou na morte de Balthazar de Bem - ARTE VILLA MINSSEN
Em torno das 10h30min, nas proximidades do armazém de Theofilo Lobato, Balthazar, em momento de intenso tiroteio em que combatia bastante exposto, recebe um balaço no ventre direito. É socorrido e colocado imediatamente no Ford Phaeton pelo Glycerio e João Noronha. Como médico experiente, disse aos companheiros que não resistiria. De fato, no local denominado Sarandy, pouco antes da barca, acabou falecendo.

Ironia do destino: como político consagrado e ex-deputado estadual, Balthazar de Bem havia ajudado a trazer o 3º BE para Cachoeira, onde morreria vitimado por uma de suas balas.

CHICO SOUZA
Enquanto isto, os rebeldes são empurrados até a propriedade de Chico Souza, mais uma vez buscando abrigo junto a um renque de marmeleiros e touceiras de taquara. Nestes instantes do combate, o jornalista Fábio Leitão, um civil não identificado (que acompanhavam os revoltosos) e dois soldados também tombam mortalmente. Os legalistas instalam fuzis-metralhadoras Browning (Colt), de 7,62 milimetros nas laterais e o combate começa a se decidir, com a fuga dos amotinados, em direção à Caçapava.

Perseguição e prisões

O coronel Ribeiro de Paula, após instalar um hospital de sangue para atender a dezenas de feridos na casa de Theofilo Lobato, ordena o início da perseguição aos revoltados. Assim, 15 autos e dois caminhões levam seus melhores 72 soldados, comandados pelos tenentes Oscar e Justino, seguindo após, de forma mais lenta, um outro contingente. Em breve, o tenente Gilberto de Carvalho e mais 13 revoltosos são presos na Granja da Penha e no Durasnal.
Às 18h (um dia de combate, sem tempo sequer para comer), o destacamento chega à Caçapava. Pouco antes, o capitão Távora e os sargentos Nicanor Fagundes e Dorval Rocha (um deles ferido) roubam um carro naquela cidade e fogem em direção à fronteira, internando-se no Uruguai. No relatório do coronel-comandante, fica claro que havia ainda muitos civis que apoiavam a revolta. Era um paradoxo, mas o comando militar do país queria manter o governo civil café-com-leite (São Paulo e Minas) de Artur Bernardes, enquanto os jovens militares queriam um governo progressista, de origem inicialmente militar. Os dados oficiais falam em 20 mil tiros disparados, nos calibres sete e 7,62 milimetros, principalmente.

RESGATE - O coronel Ribeiro de Paula, poucos dias depois, ordena ao Major Bentes e ao 2º. Tenente Renato Oliveira a seguirem à cavalo, frente a 28 soldados e ao guia Abelino Schmidt, grande conhecedor do lugar, para buscar os bens da União deixados no campo de batalha (foram recolhidos oito cavalos, um fuzil e farto arriamento), bater eventuais grupos remanescentes e auscultar a população civil.

DIÁRIO DO PESQUISADOR


>> 
O CAPITÃO FERNANDO TÁVORA, no início de 1925, retornou ao Brasil e incorporou-se à Coluna Prestes, onde cumpriu toda a longa marcha até 1927.

Anistiado posteriormente, voltou à Cachoeira em 1938, onde sob a nova denominação de 2º. Batalhão de Pontoneiros e já com o posto de Coronel, chefiou a unidade que sublevara anteriormente, por pouco mais de um ano. Tem-se que fazer justiça à história: mesmo que ceifada de sua continuidade, pode-se dizer que um dos ramos (chefiado por um oficial) da Coluna Prestes teve origem em Cachoeira do Sul.






>> O 3º BE, CRIADO EM 1917, instalou-se em São Gabriel no início de 1918. Em 1921, na reorganização do Exército Brasileiro, foi destacado para mudar-se para a então Vila de Cacequi. A ação política enérgica do intendente Annibal Loureiro trouxe a unidade para Cachoeira. Em abril de 1922, a Companhia Construtora de Santos, após determinação do Ministro da Guerra, Pandiá Calógeras e do Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Epitácio Pessoa, começa a construção das instalações do novo quartel.


A unidade foi construída na área de dois terrenos, sendo o maior de propriedade do coronel Virgílio Carvalho de Abreu e o menor de Adão Ribeiro, ambos divididos pela Hidráulica Municipal e pelo caminho do Passo do Seringa. Em outubro de 1923, já no governo de Arthur Bernardes e sob o comando do Ministro da Guerra, General Setembrino de Carvalho, deu-se o término da construção do aquartelamento, que foi efetivamente inaugurado em 13 de fevereiro do ano seguinte, pelo ministro em pessoa.



>> OS JORNAIS DE então tinham cores políticas claras. O Commercio (circulou de janeiro de 1900 até fevereiro de 1966) era situacionista, com a assombrosa tiragem de 1.400 exemplares, um prodígio para a época frente ao número de analfabetos


Leia também: Levante Militar do Barro Vermelho

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fábio Alves Leitão - História

Descendência de Francisco de Oliveira Bello até a quarta geração