Fábio Alves Leitão - História
Fábio Alves Leitão
(Cachoeira do Sul (RS), 25 de novembro de 1886 – Barro Vermelho
(RS), 10 de novembro de 1924) Jornalista e político.
Vida
Fábio Alves Leitão nasceu em Cachoeira do Sul,
Rio Grande do Sul em 25 de novembro de 1887, filho de Antônio Alves
Leitão e de Cândida Alves Leitão. Jornalista, politico e
comerciante fez a sua vida profissional nessa cidade gaúcha onde
fundou, em 15 de janeiro de 1920, o jornal cachoeirense A PALAVRA, um
ideário de cunho Parlamentarista.
Filatelista, maçom,
participou da Escola Literária da Escola Militar Preparatória e de
Tática de Rio Pardo, junto com Eliezer Leal de Souza, Ernestino
Catão Maza, Armando Faria Correa, Cézar de Castro, Álvaro Lisboa e Álvaro Peixoto de Azevedo.
Fábio Alves Leitão |
Casou-se com Maria Estellita Oliveira Bello
(1898-1969), natural de Candelária em 17 de janeiro de 1918. Teve
com ela cinco filhos, Alcione (morto com poucos meses), Nelly
(1919-2007),Paulo (1921-2014),Virgínia (1923) e João (1924-2009).
Maria Estelita Oliveira Bello |
Antes de se dedicar
ao jornalismo foi comerciante, estabelecido em um pequeno armazém na
rua Júlio de Castilhos, no prédio onde também funcionou a
funilaria de Máximo Giuliani.
Em 1922 foi membro ativo da diretoria da “Associação Comercial Cachoeirense”. O “Álbum de Cachoeira – 1922” contém uma reprodução fotográfica daquela diretoria, onde Fábio Leitão é identificado entre os senhores Haguel Botomé e Júlio Castagnino, além de outros, como Paulo Rosek, Augusto Wilhelm, Pedro Emílio Breyer, J. Pereira Lemos Júnior, Ernesto Müller, Reinaldo Roesch, Aníbal Loureiro, Achylles de Lima Figueiredo e Emílio Bartz.
Em 1922 foi membro ativo da diretoria da “Associação Comercial Cachoeirense”. O “Álbum de Cachoeira – 1922” contém uma reprodução fotográfica daquela diretoria, onde Fábio Leitão é identificado entre os senhores Haguel Botomé e Júlio Castagnino, além de outros, como Paulo Rosek, Augusto Wilhelm, Pedro Emílio Breyer, J. Pereira Lemos Júnior, Ernesto Müller, Reinaldo Roesch, Aníbal Loureiro, Achylles de Lima Figueiredo e Emílio Bartz.
Fábio Alves Leitão em foto citada acima |
Também foi membro ativo da Aliança Libertadora e secretário da Liga Operária Internacional Cachoeirense. Como jornalista, redigia artigos para os jornais O Federalista e Parlamentarista.
Em 1920, fundou o jornal A Palavra, impresso em sua tipografia.
Participou das revoluções de 1923, na coluna de Estácio Azambuja, e de 1924, ocasião em que perdeu a vida
Participou das revoluções de 1923, na coluna de Estácio Azambuja, e de 1924, ocasião em que perdeu a vida
Sobre ele foi publicado no Jornal do Povo de
19/02/1979, por ocasião do 55 aniversário de sua morte :
“Cachoeirense de coração, amando com ardor inexcedível a terra gloriosa do seu berço, Fábio Leitão, cavalheiro em todos os atos de sua vida de batalhador intrépido em prol dos mais elevados princípios de justiça, muito labutou em benefício de seu torrão, fazendo do jornal, a tribuna sagrada, onde predicava com inigualável brilho e grande ardor pelo seu maior progresso e engrandecimento. Durante toda a sua vida de lutador destemido, ele foi um digno expoente dos seus ancestrais e legou aos seus descendentes o maior tesouro que o homem pode adquirir sobre a terra : Trabalho, honra, bondade e devotamento.”
Segundo amigos e
adversários, era um gentleman, bondoso e incisivo em seus ideais1.
Jornalismo
Desde muito cedo demonstrou vocação para o
jornalismo, pertencendo ao corpo redatorial dos órgãos locais: O
Federalista e o Parlamentarista. Em 1920, funda o jornal A Palavra,
onde defendeu com veemência os princípios parlamentaristas,
movimento fundado no Rio Grande do Sul pelo Dr. Gaspar Silveira
Martins e seguido por Raul Pila.
Segundo a historiadora Ione Carlos, além de
polêmico, Leitão editava um jornal altamente inflamável, tanto que
A Palavra era distribuído de madrugada, lido e logo depois queimado
porque os leitores temiam represálias. No prédio onde funcionava o
jornal eram muitas as marcas de tiros de arma de fogo.
Em 1924 ele abandona a direção do jornal para
tomar parte ativa no movimento revolucionário que lhe custaria a
vida nesse mesmo ano.
Os arquivos dos quatro
anos de seu jornal foram perdidos quando da morte de sua esposas,
Estellita, restando dois exemplares em poder da família, e cuja
cópia estão no Museu de Cachoeira do Sul.
Jornal que achei na internet e que cita meu avô – tenho detalhe da citação adiante |
Miltância Politica
Foi membro destacado da Aliança Libertadora local
como fica demonstrado em sua correspondência com Raul Pilla e o
jornalista Fanfas Ribas (acervo da família Leitão2).
Fez parte do Comitê Pró Assis Brasil na polêmica
eleição de 1922 entre Assis Brasil e Borges de Medeiros3,
que culminou com a vitória desse último, para arrepio do artigo 9
da Constituição Rio Grandense, como proclamava em manchete o
exemplar de A Palavra de 7 de dezembro de 1922.
Foi fiscal Assisista e conta sobre a truculência pleito e do então intendente do município de Cachoeira, por ele alcunhado de Dr. Baccarat, pelos seus hábitos de jogo.
Conta que em 25 de novembro de 1922 entre outras coisas, 300 trabalhadores da estrada de ferro foram trazidos pelos situacionistas para votar no candidato oficial. Cada um desses votou 3 ou 4 vezes porque vinham com títulos diversos, o que garantiu um soma expressiva aos situacionistas.
Essas e outras truculências foram denunciadas em artigo, onde dá a sua versão sobre o episódio onde foram desarmados pelo Intendente e que consta nos Anais da Câmara dos Deputados. Registre-se que o porte de armas era absolutamente comum nessa época. Pela linguagem utilizada e pelos fatos narrados compreende-se porque em 1923, Fábio se juntou aos revolucionários de Estácio Azambuja, comportando-se, segundo a mesma reportagem do Jornal do Povo (1979) “sempre como um verdadeiro herói, dando aos seus companheiros de lutas, nos momentos de duras provas, os mais edificantes exemplo de altivez e bravura.”
Foi fiscal Assisista e conta sobre a truculência pleito e do então intendente do município de Cachoeira, por ele alcunhado de Dr. Baccarat, pelos seus hábitos de jogo.
Conta que em 25 de novembro de 1922 entre outras coisas, 300 trabalhadores da estrada de ferro foram trazidos pelos situacionistas para votar no candidato oficial. Cada um desses votou 3 ou 4 vezes porque vinham com títulos diversos, o que garantiu um soma expressiva aos situacionistas.
Essas e outras truculências foram denunciadas em artigo, onde dá a sua versão sobre o episódio onde foram desarmados pelo Intendente e que consta nos Anais da Câmara dos Deputados. Registre-se que o porte de armas era absolutamente comum nessa época. Pela linguagem utilizada e pelos fatos narrados compreende-se porque em 1923, Fábio se juntou aos revolucionários de Estácio Azambuja, comportando-se, segundo a mesma reportagem do Jornal do Povo (1979) “sempre como um verdadeiro herói, dando aos seus companheiros de lutas, nos momentos de duras provas, os mais edificantes exemplo de altivez e bravura.”
O tratado de Pedras Altas em 1923 põe fim a
Revolução de 1923, considerado sob o aspecto militar, o mais fraco
dos movimentos revolucionários até então verificados no RS. Mas em
1924 começa no RS nova campanha quando diversas unidades do exército
insurgem-se chefiadas pelo Capitão Luis Carlos Prestes.
A manchete do Correio do Povo de 5/11/24 dizia, a
respeito do movimento sedicioso que os revoltosos procuravam se
concentrar em Porteirinha. E na sua página 3 havia um manifesto de
Luis Carlos Prestes ao povo de Santo Angelo. A 6/11/1924 o Correio do
Povo resolve, em editorial de Alexandre Alcaraz, não publicar mais
nada sobre o movimento revolucionário enquanto o Poder Judiciário
não se pronunciasse sobre a censura.
Batalha Barro Vermelho (texto de Eduardo Minssem)
No domingo de 9 de novembro de 1924, no recém instalado 3º Batalhão de Engenharia, o impulsivo capitão Fernando Távora, com alguns sargentos e civis, rebela uma tropa de 200 homens.
Eles atravessam o Passo do Seringa em alguns automóveis. Contudo, cerca de outros 60, por falta de transporte, tiveram que marchar a pé. Eram dias da Revolução de 1924, que sacudiu o Rio Grande do Sul e até hoje é lembrada em vários municípios que serviram de teatro de guerra.
O comandante do Batalhão, coronel José Armando Ribeiro de Paula, em nome do Ministério da Guerra, requisita à população civil automóveis e caminhões e inicia a perseguição com o apoio da fortíssima Brigada Militar, sustentada pelo Governo Borges de Medeiros e do Corpo de Provisórios, comandado pelo Major Bozano. Preventivamente, conforme indicação dos rumores de então, Bozano veio de Santa Maria de trem e se entrincheirou no Passo do Santa Bárbara, para proteger a estrada que levava a São Sepé. Às cinco horas da manhã do dia 10, as tropas legalistas haviam transposto o Jacuí pelo Passo do São Lourenço, em sua integralidade.
Para guarnecer a cidade, já que a informação era de que os revoltosos iriam receber reforços e voltariam para buscar recursos financeiros e provisões, o Major José Bentes Martins ficou encarregado dos preparativos defensivos. Logo após o amanhecer, o vice-intendente, Balthazar de Bem, seu afilhado João Noronha de Bem e o conselheiro Glycerio Alves, junto com outros governistas e aliados, também atravessam a barca e partem rumo ao combate.
O primeiro choque deu-se aproximadamente às 8 da manhã. Os rebelados, que haviam marchado cerca de 33 quilômetros, estavam entrincheirados junto à casa e ao comércio de Donato Dias (três quilômetros antes do Barro Vermelho), onde reagiram à chegada da tropa oficial. O coronel adiantou então um piquete de cavalaria, comandado pelo capitão Avelino de Carvalho. Os rebelados recuaram e entrincheiram-se ao lado do cemitério e no barranco de uma sanga próxima.
Em torno das 10h30min, nas proximidades do armazém de Theofilo Lobato, Balthazar, em momento de intenso tiroteio em que combatia bastante exposto, recebe um balaço no ventre direito. É socorrido e colocado imediatamente no Ford Phaeton pelo Glycerio e João Noronha. Como médico experiente, disse aos companheiros que não resistiria. De fato, no local denominado Sarandy, pouco antes da barca, acabou falecendo. Ironia do destino: como político consagrado e ex-deputado estadual, Balthazar de Bem havia ajudado a trazer o 3º BE para Cachoeira, onde morreria vitimado por uma de suas balas.
Enquanto isto, os rebeldes são empurrados até a propriedade de Chico Souza, mais uma vez buscando abrigo junto a um renque de marmeleiros e touceiras de taquara. Nestes instantes do combate, o jornalista Fábio Leitão, um civil não identificado (que acompanhavam os revoltosos) e dois soldados também tombam mortalmente. Os legalistas instalam fuzis-metralhadoras Browning (Colt), de 7,62 milimetros nas laterais e o combate começa a se decidir, com a fuga dos amotinados, em direção à Caçapava.
O coronel Ribeiro de Paula, após instalar um hospital de sangue para atender a dezenas de feridos na casa de Theofilo Lobato, ordena o início da perseguição aos revoltados. Assim, 15 autos e dois caminhões levam seus melhores 72 soldados, comandados pelos tenentes Oscar e Justino, seguindo após, de forma mais lenta, um outro contingente. Em breve, o tenente Gilberto de Carvalho e mais 13 revoltosos são presos na Granja da Penha e no Durasnal.
Às 18h (um dia de combate, sem tempo sequer para comer), o destacamento chega à Caçapava. Pouco antes, o capitão Távora e os sargentos Nicanor Fagundes e Dorval Rocha (um deles ferido) roubam um carro naquela cidade e fogem em direção à fronteira, internando-se no Uruguai. No relatório do coronel-comandante, fica claro que havia ainda muitos civis que apoiavam a revolta. Era um paradoxo, mas o comando militar do país queria manter o governo civil café-com-leite (São Paulo e Minas) de Artur Bernardes, enquanto os jovens militares queriam um governo progressista, de origem inicialmente militar. Os dados oficiais falam em 20 mil tiros disparados, nos calibres sete e 7,62 milimetros, principalmente.
O coronel Ribeiro de Paula, poucos dias depois, ordena ao Major Bentes e ao 2º. Tenente Renato Oliveira a seguirem à cavalo, frente a 28 soldados e ao guia Abelino Schmidt, grande conhecedor do lugar, para buscar os bens da União deixados no campo de batalha (foram recolhidos oito cavalos, um fuzil e farto arriamento), bater eventuais grupos remanescentes e auscultar a população civil.
O comandante do Batalhão, coronel José Armando Ribeiro de Paula, em nome do Ministério da Guerra, requisita à população civil automóveis e caminhões e inicia a perseguição com o apoio da fortíssima Brigada Militar, sustentada pelo Governo Borges de Medeiros e do Corpo de Provisórios, comandado pelo Major Bozano. Preventivamente, conforme indicação dos rumores de então, Bozano veio de Santa Maria de trem e se entrincheirou no Passo do Santa Bárbara, para proteger a estrada que levava a São Sepé. Às cinco horas da manhã do dia 10, as tropas legalistas haviam transposto o Jacuí pelo Passo do São Lourenço, em sua integralidade.
Para guarnecer a cidade, já que a informação era de que os revoltosos iriam receber reforços e voltariam para buscar recursos financeiros e provisões, o Major José Bentes Martins ficou encarregado dos preparativos defensivos. Logo após o amanhecer, o vice-intendente, Balthazar de Bem, seu afilhado João Noronha de Bem e o conselheiro Glycerio Alves, junto com outros governistas e aliados, também atravessam a barca e partem rumo ao combate.
O primeiro choque deu-se aproximadamente às 8 da manhã. Os rebelados, que haviam marchado cerca de 33 quilômetros, estavam entrincheirados junto à casa e ao comércio de Donato Dias (três quilômetros antes do Barro Vermelho), onde reagiram à chegada da tropa oficial. O coronel adiantou então um piquete de cavalaria, comandado pelo capitão Avelino de Carvalho. Os rebelados recuaram e entrincheiram-se ao lado do cemitério e no barranco de uma sanga próxima.
Em torno das 10h30min, nas proximidades do armazém de Theofilo Lobato, Balthazar, em momento de intenso tiroteio em que combatia bastante exposto, recebe um balaço no ventre direito. É socorrido e colocado imediatamente no Ford Phaeton pelo Glycerio e João Noronha. Como médico experiente, disse aos companheiros que não resistiria. De fato, no local denominado Sarandy, pouco antes da barca, acabou falecendo. Ironia do destino: como político consagrado e ex-deputado estadual, Balthazar de Bem havia ajudado a trazer o 3º BE para Cachoeira, onde morreria vitimado por uma de suas balas.
Enquanto isto, os rebeldes são empurrados até a propriedade de Chico Souza, mais uma vez buscando abrigo junto a um renque de marmeleiros e touceiras de taquara. Nestes instantes do combate, o jornalista Fábio Leitão, um civil não identificado (que acompanhavam os revoltosos) e dois soldados também tombam mortalmente. Os legalistas instalam fuzis-metralhadoras Browning (Colt), de 7,62 milimetros nas laterais e o combate começa a se decidir, com a fuga dos amotinados, em direção à Caçapava.
O coronel Ribeiro de Paula, após instalar um hospital de sangue para atender a dezenas de feridos na casa de Theofilo Lobato, ordena o início da perseguição aos revoltados. Assim, 15 autos e dois caminhões levam seus melhores 72 soldados, comandados pelos tenentes Oscar e Justino, seguindo após, de forma mais lenta, um outro contingente. Em breve, o tenente Gilberto de Carvalho e mais 13 revoltosos são presos na Granja da Penha e no Durasnal.
Às 18h (um dia de combate, sem tempo sequer para comer), o destacamento chega à Caçapava. Pouco antes, o capitão Távora e os sargentos Nicanor Fagundes e Dorval Rocha (um deles ferido) roubam um carro naquela cidade e fogem em direção à fronteira, internando-se no Uruguai. No relatório do coronel-comandante, fica claro que havia ainda muitos civis que apoiavam a revolta. Era um paradoxo, mas o comando militar do país queria manter o governo civil café-com-leite (São Paulo e Minas) de Artur Bernardes, enquanto os jovens militares queriam um governo progressista, de origem inicialmente militar. Os dados oficiais falam em 20 mil tiros disparados, nos calibres sete e 7,62 milimetros, principalmente.
O coronel Ribeiro de Paula, poucos dias depois, ordena ao Major Bentes e ao 2º. Tenente Renato Oliveira a seguirem à cavalo, frente a 28 soldados e ao guia Abelino Schmidt, grande conhecedor do lugar, para buscar os bens da União deixados no campo de batalha (foram recolhidos oito cavalos, um fuzil e farto arriamento), bater eventuais grupos remanescentes e auscultar a população civil.
Morte
Assim é narrada pela reportagem do Jornal do Povo
a batalha do Barro Vermelho:
Em 10 de novembro de 19244,
o 3º Batalhão de Engenharia de Cachoeira, sob o comando do então
Capitão Fernando do Nascimento Távora (irmão de Juarez Távora),
em combinação com elementos da oposição libertadora; transpôs o rio Jacuí, no Passo do S. Lourenço, empreendendo a marcha sobre Caçapava.5 Os rebeldes transpuseram o rio pelo Seringa. Vale lembrar que este passo, com balsa, é praticamente lindeiro ao terro do 3º. BE. Para atingirem o São Lourenço, teriam que atravessar toda a cidade.
O levante ocorreu pela madrugada, não havendo
luta. Não atacaram nem foram atacados. Força legal não havia para
enfrentar os amotinados; foi preciso que de Santa Maria viesse, por
estrada de ferro, a 2ª Companhia do 1º Regimento da Brigada
Militar, sob o comando do Capitão Pedro Vaz.
Duarte aquela noite, preparou-se penosamente o
transporte em caminhões e automóveis requisitados, dos soldados da
Brigada, além de um grupo de antigos provisórios de 1923, com
Aníbal Loureiro à frente.
O problema era impedir, rapidamente, que os
revoltosos, com a vantagem da iniciativa, se infiltrassem pela
campanha, engrossando suas fileiras e perturbando a vida rural.
Na manhã imediata, “o contingente legalista”
atingiu ao clarear do dia, o lugar denominado Barro Vermelho que
domina uma vasta região, na qual se encontravam os rebeldes.6
Segundo Otávio Peixoto de Melo, em seu blog
Maragato Assessoramento, o “ combate travou-se violento, com
prejuízos para os dois lados; entre os outros, tombaram: Fábio
Alves Leitão (que atirava de pé, com seu lenço vermelho abanando
em cima do muro de um velho cemitério onde estavam entrincheirados
os rebeldes) e o Dr. Balthazar Patrício de Bem (que atirava de pé,
com seu lenço branco abanando no alto da coxílha do Barro
Vermelho).
Mapa com os principais movimentos
da batalha do Barro Vermelho, em 1924, que
acabou na morte de Balthazar de Bem Fonte :Arte Vila Minssen (JP
2/11/09)
Fábio morreu a 15 dias de completar 37 anos de
idade, vítima de hemorragia produzida por ferimento de arma de fogo,
no abdome. Segundo Eduardo Minssen, Fábio, que apesar de civil,
estava com a farda de sargento, na hora do confronto, foi atingindo
por 3 ou 4 tiros de metralhadora7
e enterrado no campo, ao lado do cemitério, no próprio dia 10
(segunda-feira).
No capa do jornal Correio do Povo de 15 de
novembro de 1924 é noticiada a morte do jornalista Fábio Leitão e
assinalada a autorização do Coronel José Armando para translado do
corpo8
que veio no automóvel de Ismael José Pereira para a casa da
família. Houve ritual evangélico (batista) com grande
acompanhamento. No dia 16 de novembro, na página 3 do mesmo Correio
do Povo é dada a necrologia do colega Fábio Leitão. (pesquisa
pessoal no acervo do Correio do Povo)
BARRO
VERMELHO
O distrito de Barro Vermelho traz a marca do
Tenentismo dos anos 20. Nesta área aconteceu uma batalha onde foi
morto o então vice-intendente de Cachoeira do Sul, Balthazar de Bem
e Canto. A tropa dispersou-se e meses depois o movimento ganhou força
com uma longa marcha por 14 mil quilômetros, conhecida como Coluna
Prestes. No Barro Vermelho há um marco referente à morte do
vice-intendente. “ Cachoeira esteve nos marcos iniciais das
rebeliões que culminaram com o fim da República Velha”, reforça
Minssen.
Minssen, A casa de Comercio citada era do Cel.
DONATO NUNES DE MENEZES, pai da minha avo, Morena Nunes de Menezes,
que nesta época tinha seus 15/18 anos e presenciou e viu Baltazar
agonizando. Lembro de seu relato, na década de 80, quando a levei no
local em que era sua casa no Barro Vermelho; na casa de comercio
citada havia de tudo, desde gêneros alimentícios ate tecidos, tudo
destruído pelos revolucionários...
Companheirismo
Amigos e simpatizantespolíticos do grande jornalista Fábio Leitão - um dos esquecidos da
história - decidiram ajudar a família (vale lembrar que não havia
previdência naquela época).
Orlando e Ciro da Cunha
Carlos, Theobaldo Carlos (TC) Burmeister, José Félix Garcia e João
Minssen firmam lista onde cada um contribuiria, com 20$000 (vinte mil
réis) durante 16 meses, para manter paga a cara
água fornecida pela intendência à casa da viúva e dos seus
filhos9.
A família, em especial
a esposa e os filhos de Fábio, todos crianças por volta de seu
falecimento tem com esses amigos uma divida de gratidão inestimável.
E mais ainda porque eles, e seus descendentes, nunca deixaram que sua
memória e o seu sacrifício fossem esquecidos. Muito mais que a
ajuda financeira, esses amigos se mostraram verdadeiros companheiros
de vida e de ideal.
Homenagens
Em 1951 através do Decreto nº 603 de 11 de
dezembro de 1951, o Prefeito de Cachoeira do Sul, Frederico Gressler,
conferiu a denominação de Rua Fábio Leitão para a via pública
localizada na Vila Barcelos, chamada então de Rua “D”, que tem
seu início na Rua General Câmara (na Sanga das Pedras), em direção
SE-NW, situando-se paralela a seis quarteirões da Rua 7 de Setembro.
O 4º Considerando do referido Decreto, destaca
que “na luta ingente pela conquista de seu ideal político,
Fábio Leitão regou com o próprio sangue a terra do seu berço
natal, tombando heroicamente no memorável combate travado no Barro
Vermelho, onde se agigantou ainda mais, fazendo com suas ideias retroassem nas plagas verdejantes, lançando aos ventos a semente
fecunda dos seus ideais, que germinaram mais tarde, para que o povo
Rio-Grandense pudesse colher os frutos de seus ensinamentos de
direito e de justiça, pregados através de A Palavra”.
Considerando, finalmente, que cabe ao governo
municipal perpetuar a memória daqueles que, pelo trabalho e pelo
desprendimento, foram eleitos no coração de nossa gente e cuja
lembrança perdura, como bronze imperecível, na alma dos que sabem
julgar os intemeratos, os despendidos e os idealistas.”
Referências
- Jornal do Povo – Cachoeira do Sul, 18 de fevereiro de 1979 – pág. 6 Cachoeirenses Ilustres - Fábio Alves Leitão, jornalista e politico destacado
- Correio do Povo – 1924 – novembro
- Enciclopédia Rio Grandense Volume 3 Ed. Regional
- O Rio Grande do Sul e a Politica Nacional – da frente oposionista gaucha de 1922 a Revolução de 1930 – Paulo Gilberto Fagundes Vizentini, pg. 37, 41, 45, 51
- Memórias de João Neves Da Fontoura 1 volume pg. 323
- Coronel Coroliano Castro – Fragmentos das revoluções de 1893 – 1923 – 1932 – Martins Livreiro pg 30
- DIÁRIO DE CECILIA DE ASSIS BRASIL / Carlos Reverbel (ano 1925 – onde ela cita a perda do “nosso Fábio Leitão” se referindo ao mesmo lado da luta
1Eduardo
Minssen – Amigos ajudam a família de Leitão – JP 2/11/09
2Há
cópias dessas correspondências no Museu de Cachoeira do Sul
3Que
foi o estopim para a Revolução Federalista de 1923 no RS, onde
colunas ligeiras de cavalaria independentes umas das outras lutavam,
lideradas pelos líderes maragatos: Leonel Rocha (Palmeira), Felipe
Portinho (NE), Honório Lemos, (Oeste), Estácio Azambuja (Centro) e
Zeca Neto (Sul)
4Na
verdade em 09/11/1924
5O
3º BE tomou parte da Revolução de 1924, sendo que as praças
sublevadas estiveram sob o comando do Cap FERNANDO DO NASCIMENTO
FERNANDES TÁVORA, o qual mais tarde viria a ser comandante do
Batalhão. No dia 10 de novembro de 1924, travou-se um combate na
localidade de BARRO VERMELHO, a 33 Km da cidade, quando os
revoltados foram derrotados pelas Forças Legais. Neste feito épico,
morreram o jornalista FÁBIO ALVES LEITÃO, simpatizante dos
revolucionários, e o médico e político Dr BALTHAZAR PATRÍCIO DE
BEM, Vice Intendente do Município.
6Consta que os rebeldes já haviam feito uma matança do plantel da Fazenda do Dr. Balthazar Patrício de Bem, alí também localizada. (Otávio Peixoto de Melo) Isto não é possível, pois a Granja da Penha (nome do estabelecimento) ficava 2 km após os combates
7eram
provavelmente fuzis-metralhadora Colt, em calibre 7,62mm
8Segundo
memórias da família, a tia de sua esposa, Virginia da Cunha
Vernei, foi taxativa em afirmar que ninguém a impediria de buscar o
corpo de Fábio para que tivesse um enterro decente.
9Eduardo
Minssen – JP 2/11/09
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ResponderExcluirTaura morre de pé
ResponderExcluirFicou um espeto cravado
Pingando a graxa do granito
E um braseiro de eucalipto
Fumaceando o silêncio dum cuera
Que evocando outra era
Torcia um sovéu parelho,
Ouvindo no Barro Vermelho
O vento rezar numa tapera...
- O sangue dum bravo
Tingiu o Barro Vermelho,
Onde agora eu ajoelho
A minha pobre oração
Maragato da mais alta tradição
Da autêntica escola caudilha,
Do Conselheiro e de Raul Pila;
Foi o jornalista Fábio Leitão!
Co'a Coluna Estácio de Azambuja
Peleou na Revolução de 23,
Mostrando bravura e altivez
Sem jamais refugar o entreveiro
Do Parlamentarismo foi mensageiro
( Em seu jornal A Palavra )
O editor que não se dobrava
Ao intendente Aníbal Loureiro!
Na Revolução de 24
( Dizia o vento na tapera )
Ao lado dos guapos de sua era,
Marchou Fábio Leitão
No levante do 3° Batalhão,
Do Seringa ao Barro Vermelho,
Lá estava, sem medo a detê_lo;
"O sargento" Fábio Leitão!
Do armazém de Donato Dias
Até as bandas do cemitério,
O combate trava_se sério
Entre os revolucionários e a brigada
E ao final duma rajada
( A história testemunha com fé )
Fábio Leitão prova
Que o taura morre de pé!
E hoje o vento conta:
- Não foi só o jornalista que morreu,
Mas, uma estirpe que pereceu
Encerrando uma guapa geração
E ao pé do fogo de chão
O cuera concorda co'a verdade,
Que falta faz à nossa cidade,
Homens como Fábio Leitão!
De: mariton lara
Que linda homenagem!! Obrigada!!
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